Blog da Produttare
Estava ouvindo Louis Armstrong tocando e cantando When The Saints Go Marchin In, em um CD comprado diretamente da fonte, New Orleans, berço do Jazz. Berço pobre, negro, hispânico, francês, analfabeto, daí sua origem, por pura necessidade de, entre analfabetos, levar a “palavra de Deus” de forma inteligível, através da música, repetidas infinitas vezes. Assim os Santos Marchavam pelas ruas, nas procissões até as igrejas ou nas procissões funerárias, hoje muitas turísticas, ao som do “spiritual”, com cantos e lamentos regados pelo melhor dos “spirits” (em uma tradução livre, cachaça mesmo), que enlevavam a alma, permitiam um contato mais cândido e suave com a espiritualidade. Daí a bebida forte se chamou “spirit”.
O Jazz passou da fase religiosa e ganhou os cabarés da Louisiana e Mississipi, sendo conhecido como a música da alegria fácil, da diversão e dos músicos baratos, até que se transformou no que conhecemos hoje como Jazz ou Blues, ainda que não sejam sinônimos.
Louis Armstrong, longe de ser somente um gênio era, na verdade, um aplicado estudioso das origens do Jazz, do seu público-alvo, das razões pelas quais o Jazz veio migrando das igrejas e funerais para bares, teatros e salas de concertos, em uma profunda transformação, em todas as suas fases e estilos, em busca de públicos distintos. Mais que um gênio foi o condutor das principais Bandas de Jazz e orquestras dos EUA, mudando o estilo religioso e de cabaré para algo palatável para públicos distintos, dando visibilidade musical ao Jazz, que assim ganhou as salas de concerto mais apreciadas e sofisticadas dos EUA e do mundo todo, incluindo o cinema. Conhecedor profundo de todas as ferramentas do mundo da música, foi um marqueteiro intuitivo e genial, que entendeu rapidamente o alcance que poderia dar à sua música, à música da sua terra. Trabalhador incansável estudou música e história da sua terra, trabalhando mais que 14 horas diariamente, entre compor, estudar, ensaiar, gerenciar turnês, bandas e orquestras.
Seria impossível o sucesso que teve o Jazz sem a visão histórica, sem a visão do consumidor imediato (analfabetos, negros, pobres), sem a visão do consumidor do futuro (apreciadores da boa música, seja ela qual for), sem preparar e transformar produto (Spiritual, Blues, Jazz e todas as suas evoluções e estilos chegando ao Rock), sem estruturar canais de distribuição (da música ao vivo, passando pelos LPS, Hi FI – isto é antido – rádio, tv, cinema, indo pelas igrejas, cabarés, bares, teatros e salas de concertos), sem utilizar mídia e sem utilizar ações de PDV (há sempre um ambiente preparado, enfumaçado, com Bourbon e Cerveja e gente vestida ao estilo da Louisiânia – em qualquer lugar do mundo).
Portanto para se fazer um Marketing agradável ao ouvido, é necessário saber a história da empresa, do produto, dos concorrentes, do mercado, por pelo menos cinco anos. É necessário estudar todos os movimentos antes, preparar formalmente os Planos de Marketing, estratégicos e operacionais. É necessário estudar, escolher, preparar e treinar os canais de distribuição, parte integrante de qualquer plano de Marketing. Fundamental preparar as pessoas, da empresa, do mercado, do canal, do pdv, indo do endomarketing à comunicação de marketing com o mercado. É fundamental um líder, um diretor que mostre o norte e ajude a estruturar os planos, que esteja no mercado mais que na sua mesa, que veja quando mudar se necessário e olhe para o consumidor como seu alvo primeiro, mais querido e mais constante, o único capaz de colocar dinheiro na empresa para a qual trabalha.
Assim fez Louis Daniel Armstrong, na década de 40, quando o Jazz começou a cair em desgraça com o mercado rejeitando o swing no pós-guerra. Ele reinventou o Jazz saindo da polifonia de New Orleans e buscando os improvisos, com finais inéditos das frases musicais, embora o Jazz, o Blues e o Soul continuassem os mesmos. Somente a sonoridade era mais palatável ao novo gosto do mercado e fez isto liderando gente como Duke Ellington, Barney Bigard, Jack Teagarden, Arvel Shaw, Sid Catlett e Earl Hines, entre outros mágicos do Jazz, que foram seus companheiros na fundação desta nova fase do Jazz, no grupo All Stars, estilo que se mantém até hoje e conquista corações e almas.
Mesmo com a quase total destruição de New Orleans, quando da passagem de furacões e rompimentos de diques, a música da Louisiana, o Jazz, o Blues e o Soul permanecem intactos nos recém construídos e reestruturados PDVs do Jazz.
Assim, qualquer produto quando estruturado por um bem estudado e implementado plano estratégico de Marketing, bem estruturado em termos de produção, distribuição, logística e PDV, com uma comunicação de Marketing alinhada com o plano estratégico, o que restará, mesmo em dias difíceis, de mudanças no mercado, é What a Wonderful World.